sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Quando a parede vira gato; ou o gato vira parede.

Nenhum argumento convence quem não se permite ouvir opiniões antagônicas. Quem já formou juízo sobre um assunto, e não se dispõe a ouvir argumentos diferentes dos seus, não mudará de opinião. Assuntos e temas existem, que por despertarem grandes e voluptuosas paixões, dão a necessária abertura para que opiniões fundamentadas em nada sejam emitidas, e estas, travestidas de palavras bonitas, passam como se fossem mais do que são de fato:opiniões ou palpites de curiosos sobre o tema.
Um desses assuntos é a Defesa Social. Num país onde se sofre com a criminalidade violenta e onde em alguns casos, o Estado já não controla o seu território é no mínimo esperado, que àqueles que sofrem as consequências disso queiram ser ouvidos mesmo que aos berros desprovidos de lucidez e equilíbrio, à maneira daquele que vítima de um erro médico, resolve discutir a técnica médica apesar de desprovido de qualquer conhecimento que o habilite para isso - a emoção justifica tal postura, apesar de ser imprescindível que àqueles que a testemunham sejam equilibrados no ouvir.
A bola da vez no momento é o trânsito. Depois de décadas a fio tratado como assunto menor no contexto da Segurança Pública, parece que finalmente o trânsito passou a merecer a atenção da sociedade e suas Autoridades. São aproximadamente 7.000 mortes por ano somente em Rodovias Federais. Um prejuízo social imenso e inquestionável. Como se 35 aviões com 200 passageiros cada, caíssem a cada ano sem nenhum sobrevivente. Na esteira da importância do tema, surgem, como seria natural esperar, os aproveitadores e os "emocionados"; os primeiros dos quais fazem parte alguns dos políticos que citam o trânsito como plataforma de campanha, são em sua maioria aproveitadores que nada acrescentarão. Os segundos, em que pese o desconhecimento técnico, ajudam a despertar o interesse para o tema.
E onde, nesse contexto, se encaixa a técnica, a ciência e o estudo daqueles que, de forma séria e nutrida de conhecimentos tentam soluções para problemas complexos que envolvem desde a falta de educação de boa qualidade até a formação Social privilegiadora do "jeitinho brasileiro" ?
A resposta a essa pergunta, na minha opinião, é que a técnica e o profissionalismo ficam relegados a um plano coadjuvante, como se o fato de haverem "aproveitadores e emocionados" aos borbulhões sendo atentamente ouvidos, tirassem a legitimidade do profissionalismo. Continuamos a ouvir atentamente a velha ladainha de relativização das punições administrativas, acompanhadas sempre de outros amadores, curiosos e palpiteiros que se insurgem contra toda e qualquer iniciativa de modificar o contexto, baseados sempre na sofismática conclusão de que toda iniciativa para a mudança é mais uma a incrementar a "indústria de multas". "A parede é branca; o gato é branco; logo, a parede é um gato".
Neste pequeno espaço, declaro que mesmo à revelia dos "emocionados e dos aproveitadores" existem sim, iniciativas de mudança honestas e profissionais em curso. Feliz ou Infelizmente, estas não prescindem do cumprimento da Lei.

5 comentários:

Marisa Dreys disse...

OI, Junie!

Muito legal seu texto. Tem tudo haver com a situação que vivemos hoje, principalmente em relação à aplicação da Lei 11.705/08.Deus ajude as pessoas a diferenciar gatos e paredes.

Unknown disse...

Junie, excelente seu texto. Sua lucidez e a sua consciência política e sócio-educacional contidas no texto me faz refletir mais acerca da relação trânsito X bicho-homem. POarabéns, abraços Jório.

Junie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Junie disse...

Amigo Jório,
Agradeço sempre os teus elogios sabendo que eles vêm naturalmente carregados de amizade e carinho fraterno.
Obrigado meu irmão!
Um abraço
Junie

Junie disse...

Marisa
Agradeço os elogios e aproveito a oportunidade para indicar seu texto (imprescindível e emocionante) a todos que por aqui passarem.
http://transitoamigo.blog.terra.com.br
Poucas vezes vi um texto atingir tão contundentemente seus objetivos.
Um abraço
Junie