terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dr. Lucas Machado e suas 5.000 horas de voo.

Os bons de braço sempre existirão.
Nos fascinam com sua habilidade singular e a condição de fazer com facilidade aquilo que a maioria não faz com dificuldade.
Um dia, (e esse dia chega para todos os braços) os bons de braço se machucam, ou aparecem braços melhores, ou surgem novas técnicas que otimizam braços nem tão bons assim...
E aqueles que se iludiram com a vaidade de ser o mais habilidoso caem no lugar comum reservado para aqueles que foram habilidosos somente.

Os campeões também sempre hão de haver.
Se sucedem, surgindo e desaparecendo sem que muitas vezes deixem um pedaço significativo de si como marca de sua existência no esporte. Com o ocaso desses campeões, surgem outros que ocupam o lugar daqueles que, por não terem mais os reflexos de antes (ou por terem mais juízo que antes) já não conseguem mais ganhar campeonatos. E o campeão do passado tem seu nome solenemente esquecido quando aparece o próximo ganhador de campeonatos.
E a vida vai dando exemplos da irrelevância das vaidades fugazes e do orgulho desnecessário.

O Dr. Lucas Machado é tudo isso sem que no entanto seja só isso.
É um excelente piloto, e foi competidor que viveu intensamente as competições.
Como excelente piloto, é uma excelente pessoa. Disponível e solícito para todos, desde o top pilot até o preá de primeiro prego (ou de milhares de pregos como eu :- )
Como competidor que foi não será lembrado por troféus ou por colocações, pois suas atitudes certamente serão mais duradouras do que o latão dos troféus que se desgastam em poucos anos.
Ser assim é para poucos.
E os que são assim, felizmente duram mais do que a própria existência: se eternizam na força de seus exemplos.

Que todos nós, nos miremos no exemplo de trajetória do Lucas para tornar as rampas pelo mundo a fora mais agradáveis.

Parabéns Dr. Lucas Machado.
Vc merece cada minuto dessas 5.000 horas voadas e de cada um das outras que ainda serão!


O texto abaixo é do Dr. Lucas Machado e tem como tema suas 5.000 horas de voo. Me permito publica-lo como expressão de rara beleza e poesia no voo livre:


"Vi minhas penas começarem a crescer.Vi como a vida é frágil e a natureza poderosa.Vi como o mundo é pequeno, lá de cima.E como o infinito é grande.
Vi rio, lagoas, represas, mares e cachoeiras.Vi morros, montanhas, serras, picos e cordilheiras.Vi cidades crescerem e matas desaparecerem.Vi pastos, plantações, queimadas e mineradoras.
Vi nuvens crescerem e se dissiparem.Vi brisas e rajadas.Vi raios e ouvi trovoadas.Vi chuvas e tempestades.
Vi minha sombra sobre a nuvem.Vi que ela é contornada por um arco-íris.Vi o azul de um céu de inverno.E a poluição abaixo da inversão.
Vi aves de rapina, condores e urubus-rei.Vi andorinhas copulando em pleno voo.Nunca mais vi uma harpia, nem um lobo-guará.Todos eles me viram.
Vi a Mantiqueira, os Andes, os Alpes e a Canastra.Vi o Pacífico, o Atlântico, o Mediterrâneo e o Índico.Vi o Vale Sagrado e o do Paraopeba.Vi todos os lados da Moeda.
Vi (mais de perto do que devia) cercas, postes, fios, árvores e telhados.Vi helicópteros, balões, ultra-leves e planadores.Acho que eles também me viram.Não vi nada dentro das nuvens.
Vi a consagração de amigos e a resignação de outros.Vi a resiliência de uns e a desistência de outros.Vi os acertos de uns e os equívocos de outros.Vi a paixão de todos.
Vi o avanço tecnológico.Vi que a nossa mentalidade pouco evoluiu.Vi o rendimento de nossas asas aumentarem.Vi a segurança delas se esforçando para melhorar.
Vi a morte de perto, mais de uma vez.Vi reservas abertos e outros que quase abriram.Vi asas quebradas e outras fechadas.Vi o chão rapidamente se afastando e igualmente se aproximando.
Vi o Pepê junto à minha asa.Vi também o Calais e o Paulinho.Vi amigos morrerem e seus filhos nascerem.Vi o choro dos que compartilharam.
Vi que as causas dos acidentes continuam as mesmas.Vi que nós mesmos somos os maiores responsáveis por eles.Vi imprudência, imperícia e negligência.Também vi a sorte sorrir.
Vi o romantismo dos novatos. E a malícia dos veteranos.Vi o arrojo dos jovens. E a cautela dos mais experientes.
Vi isso tudo lá de cima. Onde vejo o que verdadeiramente sou: Um visionário."
Lucas Machado