quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sobre ministros, rótulos e fé.

que soem as trombetas!



Taí duas coisas sem as quais a humanidade nunca conseguiu viver. Precisamos de rótulos para queimar as pestanas com coisas “mais úteis e importantes” e precisamos de fé em algo, para a gente ir vivendo. A fé, não necessariamente a religiosa , é o que nos move. Se trabalhamos com afinco ou se não trabalhamos, o fazemos em nome da fé. Fé na máxima de que “o trabalho enobrece o homem”. Ou fé na idéia de que o ócio faz bem quando é administrado. Como na decisão entre ser um trabalhador exemplar ou um vagabundo realizado, para tudo na vida é preciso fé.

Dizia o cantor e ex ministro que é bom andar com fé - não costuma falhar. Pela frase, mas sobretudo pela decisão de deixar de ser Ministro, parece um homem sábio.
Muitos de nós assumem a fé religiosa como um preceito norteador da vida. Outros, ao inverso, carregam orgulhosamente o rótulo de Ateu também a nortear a breve passagem nesse planeta.
Ambos me parecem sofrer do mesmo mal: A presunção aguda e, adivinhem, a fé (ela mesma!) em rótulos. E escrevo isso olhando para mim. Sou um cara de fé, inclusive em Deus, o que não quer dizer que não tenha meus momentos de desesperança e de falta de fé. Inclusive em Deus. Pouco provável a existência de alguém para quem caiba o rótulo de crente (e me refiro a Crente como uma pessoa que crê, abstraindo todos os outros significados da palavra) integralmente. Em resumo, não acredito na feliz possibilidade de se ter fé o tempo inteiro, como também é improvável que alguém tenha o infortúnio de viver sempre sem ela. A fé no intangível e no etéreo, assim como todas as outras variáveis da fé, não é uma constante na vida. Até quem não tem fé um dia tem. E até quem tem, experimenta não ter. Eu mesmo acabo de perder mais um pouco a fé na língua portuguesa: descobri que “fé” não tem plural e não é “nome contável”. Humpfff. Grande coisa.

Last, but not least, os rótulos esses malditos.
Como um paradoxo a gritar nos nossos ouvidos, nós rotulamos os outros e nós mesmos apesar de sabermos (ou desconfiarmos) que ninguém cabe dentro de qualquer rótulo. Ninguém tem tanta fé que não tenha seu dia de falta de fé e até quem se diz Ateu tem seu dia de fé no etéreo. Não vivemos sem rótulos mesmo sabendo que eles não servem pra nada...
Então, já que não vivemos sem rótulos e sabemos que eles servem pra nada (ou quase nada), que tal seria se o bicho homem relativizasse um pouquinho a importância deles? Seria bacana se a gente ao menos conseguisse olhar para quem se rotula ou aos outros e ....sorrisse simplesmente.