quinta-feira, 16 de abril de 2009

Os erros de disponibilidade - sobre médicos, erros e voo livre.


Fotos: Hebrom Tebas



Dentre tantas coisas boas e ruins que li ultimamente, um livro em especial me chamou a atenção: trata-se do "Como os médicos pensam", livro do Dr. Jerome Groopman, Oncologista, hematologista e Professor da Faculdade de Medicina de Harvard. O Dr. Groopman escreveu um livro a respeito dos processos cognitivos da clínica médica e seus equívocos. Em resumo trata-se um livro escrito por um médico, para quem não é médico, no intuito de explicar as causas e efeitos dos erros cognitivos que os médicos cometem.

Em determinado momento, o Dr. Groopman fala do que ele chama de "Erro de disponibilidade": na definição do autor, "uma forte tendência a pensar com base em um acontecimento incomum chocante, ocorrido pouco antes, que ganha destaque na mente do médico". Como exemplo, o caso de um médico que se deparou com uma alteração muito comum numa mamografia de uma de suas pacientes, que no entanto, não se encontrava lá no último exame. Decidido, o médico entendeu que, a revelia da ansiedade que isso certamente causaria em sua paciente, ele deveria pedir uma biópsia; de forma sincera então, explicou que precisava se assegurar de que tudo estava normal. A surpresa foi o resultado que detectou um câncer extremamente agressivo e raro.
Diante do quadro, o dilema: Se o caso for apresentado haverá fila de mulheres para fazer biópsia do que quase sempre é um achado sem importância. Caso contrário, perderia-se a oportunidade de estudo de um caso importante e que deveria servir de alerta a outros médicos. O Erro de disponibilidade estaria exatamente em passar a pensar todos os achados semelhantes como se fossem um Câncer agressivo e raro. Não pude deixar de fazer uma analogia da situação com várias situações da vida comum, e, (por que não?) com o voo livre.
Que o voo livre, apesar de ser algo absolutamente apaixonante, machuca e mata cruelmente aqueles que se esquecem disso é fato mais do que sabido. O que talvez ainda não tenha sido percebido é que as discussões acerca de segurança pecam pelo tal Erro de disponibilidade. Para ser claro e direto, o que deve ser considerado em termos de política de segurança não são situações excepcionais e raras mas sim, àquelas com as quais convivemos diariamente. O acidente que teve como causa uma conjunção rara de fatores, pela sua prórpia natureza, dificilmente se repetirá. Ao contrário, os pequenos erros que vez ou outra acontecem sem maiores consequências, continuarão a acontecer e de tempos em tempos matarão alguém.
É preciso parar com o raciocínio de excepcionalidades e nos voltarmos ao que é costumeiro e habitual- isso é o que importa.


O caso do piloto que colide com um Disco voador pode esperar um pouquinho para ser analisado - dificilmente alguém vai encontrar outro OVNI pela frente (se bem que alguns pilotos parecem ter sido abduzidos; mas isso é outra história) Em compensação, os vários casos de gente que decola desengatada, outros tantos tomando fechadas perto do relevo, decolando em condições e/ou voando velas acima de suas capacidades, pousando entre fios elétricos para evitar uma caminhada, esses precisam de atenção urgente - são os que se transformam habitualmente em acidentes.

Moral da história: quando escutarmos barulhos de cascos, pensemos em cavalos - deixemos as zebras e mulas sem cabeça para depois.

Em tempo: As fotos publicadas junto ao texto são todas do amigo Hebrom Tebas, piloto, fotógrafo e messenas das diversões da Serra da Moeda; enfim, o cara joga nas onze!

Mais (excelentes) fotos do Hebrom em http://www.flickr.com/photos/hebromtebas/